18:30: Entro no supermercado, compro o que me falta antes de chegar em casa. Os passos, ditados pela lista de afazeres, seguem apressados.
No caminho habitual, olho adiante, lá debaixo da marquise: avisto um carrinho desses de papeleiro diante de um comércio já fechado.
Perdendo a pressa,retomo o olhar: parte do papelão está cuidadosamente dobrada e amarrada, já sobre o carrinho. Um senhor, aparentando alcançar seis décadas de vida, um tanto sujo, amarra cuidadosamente outros materiais.
Ao lado, preso a uma corda, destas de varal, um vira-lata. Mediano, caramelo,simpático. Ao seu lado,uma vasilha de água, outra de ração.
Imediatamente paro.
Pergunto o nome do cachorro.
-Este é o Afonso, responde sorrindo.
Sem saber se o sorriso é pelo amor ao bicho ou por ser notado, continuo puxando assunto:
-E o seu nome, qual é? O meu é Ana,prazer.
-Pedro, Ana, Pedro, afirma com um sorriso maior ainda.
-O dia foi bom hoje?
-Fazia tempo não vinha pelas bandas de cá, até que rendeu, diz sinalizando com a cabeça a pilha de recicláveis.
-Ah é, onde geralmente o senhor fica?
-Ah, minha filha, eu rodo muito...não tenho uma ponto fixo não. A vida vai apenas me levando.
-O Afonso te acompanha sempre?
-Ele é meu companheiro, por isso, à ele ofereço o melhor - diz apontando a vasilha de ração.
-Está certo, a gente tem que cuidar de quem cuida da gente, né? Mas, me diga uma coisa...e o senhor, já comeu?
Pedro, que já me olhava nos olhos, como quem reconhece um amigo, abaixou o olhar. Adotando um tom quase silencioso, me diz que
não.
Pergunto se posso fazer alguma coisa por ele. Imediatamente me encara de uma maneira doce e responde:
-Ah, minha filha, você falou comigo. Já fez muito. O resto, eu e o Afonso damos um jeito, a gente sempre dá.
Na lateral do carrinho, penduro uma de minhas sacolas, desejo boa noite e sigo.
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