terça-feira, 26 de maio de 2009

Cartões, taxas e telefonemas

Sabe como é, todo mundo acha todo mundo pelo celular. Não há como fugir, fazer de conta que não viu, dizer que não está. Cedo ou tarde eles vão encontrá-lo, com aquela voz de canal de vendas e tentar seduzi-lo, convencê-lo, empurrar-lhe goela abaixo o cartão, o empréstimo, as últimas novidades da semana, tudo a uma taxa de juros bem baixinha.

Eles vêm com aquela animação, dando boa tarde, perguntando se estamos bem. Jogam uma conversa de “como você tem um óóótimo relacionamento em Goiânia, São Paulo, na China e em Marte” estarão enviando totalmente grátis um inocente cartão, com os melhores planos de crédito e empréstimos.

E não adianta dizer que não quer, agradecer, ser educado. Eles querem um motivo, UM motivo apenas para tamanha desfeita. Tentam nos convencer que estamos jogando a sorte pela janela, trancando as portas para a oportunidade perfeita.

Cometemos um crime quando dizemos que não. Com vendedores, consultores e não sei mais o quê, não há escapatórias. Por mais que digamos que não, daqui a pouco os cartões estarão em nossas caixas de correio, contando os minutos para nos afogar em juros, taxas e anuidades.

Quando um deles telefonarem, desejo que você consiga achar uma brecha, uma puxada de ar, uma respiração do outro da linha que ofereça a oportunidade de dizer "não, muito obrigado, eu já vou, um abraço, até amanhã ou mais tarde, em outra ligação".

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Facilidades

Você não tem tempo para fazer compras? Chega cansado do trabalho e não quer saber de happy hour? Você pode resolver todos os seus problemas ligando agora para o nosso canal de vendas.

É fato. A tv a cabo está cheia deles. Jóias baratinhas, só 550 a parcela, peça exclusiva, minha gente! Os canais vendem produtos revolucionários para mudar a sua vida. Você pode ter a sua própria máquina de expresso, freqüentar cafés para quê? O seu happy hour está salvo com as panelas elétricas, grills e máquinas de suco que moem até mandioca. E daí que mandioca crua é tóxica?

Para que se preocupar com produtos de limpeza se você pode ter um revolucionário vaporizador para limpar tudo com o auxílio de uma escada que você pode montá-la de 231 formas diferentes?

Está cansado de fotos com baixa resolução? Agora você pode registrar os seus momentos em uma potente máquina de 12.0 megapixels que é também webcam, gravadora de som, filmadora e canivete inglês. Sua potente máquina fotográfica só não corta batata palha, mas isso é facilmente resolvido com um telefonema para adquirir um superprocessador que também faz suco. Ele é facílimo de montar e limpar, pois é composto apenas por 456 peças distintas. (E na compra do superprocessador você leva inteiramente grátis um exclusivo cortador de legumes em cubos ou palitos perfeitos, que dará ao seu jantar de segunda uma sofisticação nunca antes vista).

Você pode adquirir uma máquina de pão, uma panela elétrica para arroz, omeleteiras, uma máquina de fazer donuts e uma vassoura elétrica. Você pode vender a sua alma e ter uma lista de produtos na prateleira para usar três vezes. Tudo bem, talvez quatro, talvez nunca. É a praticidade do mundo moderno. Daqui a pouco venderão corações e amores, mas, por enquanto, vendem felicidades momentâneas em potes de 500 gramas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quanto tempo demora uma espera?

O relógio se arrasta, os minutos parecem brincar de estátua. Quanto tempo demora uma espera? Talvez a mania de cultivar dias dentro de segundos tenha me deixado assim: meio torta, pendendo para o lado esquerdo das coisas. Tenho olhos de interrogação e ressaca, vontade de dormir até que se tornem gastas todas as pontas do mundo.

A vida e sua mania de ser sala de espera. Cultivando em olhos tristes o cronômetro que acompanha o deslize descompromissado do ponteiro que marca os segundos. Aumento os dias para não partir, diminuo as horas para não pensar. Mas, quando o cansaço cansar de esperar, o telegrama aguardará a notícia dentro da caixa de correio. Então, será preciso partir.

Partir para ficar e levar junto. Partir para recomeçar o que já tem começo e pintar bem colorido toda saudade que ficará. Afinal, quanto tempo demora uma espera? Demora o tempo de fechar os olhos, o tempo de dizer até logo, o segundo antes do abraço. Demora a sua falta no cobertor, o segundo antes da chamada, a lucidez imaginária de qualquer caminho flutuante.

Ao final, as horas voarão para dizer que não adianta esperar. E cada passo trará uma nova resposta, um alento, um telegrama novo, uma paz inquieta. Cada passo fará o relógio dormir para que eu possa sempre acordar em uma vida diferente. Para que eu possa dizer dos tempos que se foram e, com eles, traçar as linhas das minhas mãos; para que eu possa fazer de cada segundo, meu minuto.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sobre paredes, finais de semana e repartições públicas

Quem foi o inventor dos sistemas de ventilação coletiva para prédios públicos? Um dia quente demais, noutros é preciso montar uma fogueirinha no meio do escritório. A blusa já conquistou lugar cativo no carro, junto com o pacote de bolachas para tomar café da manhã ao volante.

Em repartições públicas, paredes são artigos de luxo, há apenas um mar de divisórias, mini-salas com parede de compensado e vidro. As conversas são públicas, a tela do computador também é, vivemos em um voyerismo constante com os trabalhadores da sala ao lado. Ouvimos as piadas, as reuniões, as conversas ao telefone, vemos as visitas no orkut e em sites oficiais. Sabemos os horários de cada um. Incluso a ordem de chegada na repartição.

Às sextas-feiras a quantidade de gente cai consideravelmente e o fluxo de trabalho cresce. Às segundas, a maioria chega após as 9 horas e sai mais tarde que o de costume. Quando o telefone toca, é preciso dez segundos para distinguir de qual lado da divisória sai o som. Há dias em que há uma sucessão de “repartição fulano de tal, bom dia” seguido do som intercalado do telefone - do outro lado do compensado e vidro.

As repartições públicas, olhadas pelo lado de dentro, não são tão burocráticas quanto parecem. Há vida - e pessoas com vontade de produzir cada vez mais, apesar da fama de trabalho manso. Há egos e pilhas de formulários e como em qualquer empresa privada, há limites. A diferença é que não trabalhamos aos finais de semana e as paredes...ah, bom deixar para lá.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Histórias sobre motoqueiros

Acho que não é segredo o meu desapego por carros e trânsito. Neste universo, há duas coisas que me causam pavor: ônibus e motoqueiro. Eles querem disputar espaço, um porque acha que é grande e merece destaque e o outro encara sua pequenez como passe livre para costurar por entre os carros, pessoas, bicicletas e sinaleiros. Hoje dedico minha atenção à segunda espécie descrita.

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Em um tranqüilo dia de domingo, sem trânsito intenso, aguardo o verde do sinal. Um casal motoqueiro pára ao lado.
-Ela entrou no seu orkut, eu não aceito isso e EU SEI que você não aceitaria se fosse comigo!
-Calma benzinho, eu não posso controlar quem entra no meu orkut...
-Não importa, você não aceitaria se algum ex entrasse no meu profile...!!!
Tudo isso, aos berros. O Tom Jobim do meu carro, abafado pela gritaria. O sinal abriu, o moço encostou, a outra saiu berrando, com o capacete nas mãos. Segui meu destino.

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Mais tarde três figuras, duas motos. Dois rapazes, calça jeans, camiseta e boné por debaixo do capacete. Praça Cívica. Uma moça na garupa, de vestido curto e chinelinho. Riam. Alto. Porém, rir não é crime, apenas causa olhares assustados em algumas ocasiões.
Até que depois do terceiro sinal que paramos lado a lado, um rapaz passou a ensinar ao outro - ao que estava com a garota na garupa, a forma correta de arrancada para empinar a moto. Uma, duas, três tentativas. Risos. Quatro, cinco. Mais risos. Tudo bem que, ao final, ninguém empinou moto alguma, ninguém caiu, nem se machucou. (Pelo menos no espaço de quatro sinaleiros).

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Outro dia, um motoqueiro sentiu forte atração pela porta traseira do carro lá de casa. Ultrapassagem pela direita. Achou, ainda, que tinha o direito de ficar com raiva.

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Por falar em ultrapassagem pela direita, há uns dois anos fui descer de um carro parado no sinaleiro. O espaço entre o veículo e o meio fio era pouco menos de um metro. Eu estava no banco do carona. Quase morri atropelada pelo motoboy que faria uma entrega no meu prédio e que, após cruzar pela direita e furar o sinal, entrou na contramão. Já na portaria do prédio, ele veio me perguntar por que eu fiquei brava com ele.

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O pior de tudo é constatar, que quando vemos um motoqueiro que não costura no trânsito e não provoca acidentes, ficamos com raiva, xingamos todos os seus antepassados e, por fim, ultrapassamos, indignados.

Casa nova

Mudei. Casa nova. Projetos novos, sonhos antigos e renovados. Explico que a mudança (do brogui para o blogspot) foi necessária, para não dizer inevitável. Infelizmente o BroguiBlogs “faliu”, ou algo assim. O meu blog, assim como de várias pessoas, saiu do ar.

Nesta casa nova, darei continuidade a um projeto que começou em outubro de 2005 e que vem crescendo. Outras novidades virão em breve. Obrigada a todos que freqüentavam o antigo blog e que estão aqui, descobrindo o que virá.

O endereço é novo, mas a pseudo-escritora é a mesma. Sinta-se em casa, coloque o pé no sofá e boa leitura!