quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Recesso 2 - A missão

Mais uma vez, o "Ana Flávia Alberton" entrará em recesso. Amanhã começo mais um mês carioca e, por isso, devo ficar afastada de todas as ferramentas virtuais. Talvez neste meio tempo, poste algo, mas a rotina só será retomada ao final de março.

O Rio de Janeiro é sempre sinômino de alta produção, voltarei com novidades.

Abraços aos passam sempre por aqui.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por cartas e cartões postais

Não sei qual foi a última vez em que uma carta me chegou pelo correio. Apenas os bancos, o serviço de telefonia e o setor de marketing de diversas empresas me enviam correspondências – mas não dizem sequer um “oi” sincero, trazem apenas valores cifrados e datas a respeitar. Quando muito, um “oi” impresso, seguido de meu nome completo (quanta informalidade!) e me oferecendo uma oportunidade incrível que eu prefiro perder.

Por isso, não sei mais qual foi a última vez em que um amigo me enviou uma carta. As minhas, viraram objeto de coleção, recontam a vida em linhas rasuradas. Hoje eu recebo emails. Não que eles sejam ruins, mas não carregam consigo a expectativa existente entre o envio e a chegada, entre a mão que escreve e os olhos que lêem apressados, exclamados em novidades.

Conheço pessoas que guardam postais dos lugares por onde passaram. Eu coleciono parte da minha vida em envelopes com selo, carimbo e data. Eu guardo uma nostalgia de quem viveu antes do instantâneo, de quem gosta do barulho de máquina de escrever e tinta de caneta sujando a mão.

A verdade é que os correios já não suprem a velocidade da chegada, nunca foram instantâneos. Ganhamos a necessidade da pressa, perdemos o charme. Hoje, as letras são corrigidas sem rasuras, corretivos, não deixam marcas, nem saudades. São automáticas, consomem, informam e morrem esquecidas, entulhadas entre spams e emails de trabalho.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esquinas da escrita

O Rio de Janeiro desperta em mim a vontade compulsiva pela escrita. As referências à alguns escritores prediletos estão espalhadas por aí. Aqui, música e literatura se misturam - e não falo dessa coisa de novela de Manoel Carlos de andar no Leblon ou Copacabana cantando bossa em inglês.

Na travessa do Ouvidor, no meio do caos do centro da cidade, está a antiga sede da Academia Brasileira de Letras e todas as referências ao bruxo do Cosme Velho. No Ouvidor também repousa a imagem de Pixinguinha, imortalizado em uma estátua de bronze - e que parece ministrar o caos e a pressa de quem passa e não vê.

Procuro João do Rio, ou ao menos o Rio de João, nas esquinas, becos, nos velhos casarões. Procuro o Rio de João nas ruas que, de alguma forma, ainda estão lá.

É só no Rio que você pode cruzar com o Ferreira Gullar, cheio de sacolas e se arrepender de não ter sido inconveniente, de não ter trocado uma palavra, de sei lá, não ter oferecido ajuda com as compras.

É só no Rio que você vê a Ipanema do compositor e grande escritor "Vininha" e os bares que Rubem Braga freqüentava com seus amigos raros. Aqui está a Copacabana de Braga (Ai de ti!), o amarelinho de fim de tarde na Cinelândia, a Biblioteca Nacional, o Gabinete Português de Leitura.

Aqui está o subúrbio, a ilusão e amores cantados por Chico, Melodia, Cartola e tantos outros. O Rio carrega na alma a alma de muitos que fizeram desta cidade o palco de suas histórias, deixando no ar uma mistura de realidade e ficção.

Aqui está a literatura espalhada pelos cantos, aquela que foge das livrarias e toma as ruas, povoa o ar e encanta a cada esquina do saber andar pelo o que já foi escrito.

(Rio, Janeiro de 2010)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Vida: modo de fazer

Eu gosto da vida que dobra a esquina e das estátuas esquecidas. Meço perdas e ganhos no tamanho de minha loucura. Tenho mente aberta e mãos lúcidas. Pouco espaço para muita alucinação. Não me digam que é hora de parar, que o tempo acabou ou que não há mais destino. Pouco importa se é mesmo para lá o caminho. Eu faço meu Norte.

Eu vivo pra fazer meus acasos, coordenar o sorriso e a intensidade do necessário. Faço meus motivos e minhas verdades. Eu vivo pra trombar com seu futuro na minha esquina. O resto é invenção. Não há circo montado, apenas a leveza e braços abertos pra qualquer olhar atento.

Espalho fotografias pela casa para esquecer da solidão. Eu danço sem música, esqueço o compasso e canto fora do tom. Não me importam os motivos, nem as opiniões. Eu traço meu destino, esqueço as linhas das mãos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Pra não me perder ao final da tarde

Minha casa é o mundo: nem lá, nem cá. Um lugar suspenso, perdido e encontrado. Meu lugar é saudade - daquela cheia de motivos e nomes.

Eu colecionava verdades em potes coloridos, hoje as cores tomam o ar e se fazem na ausência ou junção.

Minha casa é a ponte, qualquer elo ou verdade. Não há janelas, nem portas, apenas destinos cruzados em um lugar chamado “não sei onde”.

Minha casa é a chuva, o vento e o que vier. É a verdade, mesmo que crua ou torta. Eu costumava ter mais certezas. Hoje restaram as dúvidas e toda a pontuação.

Eu costumava ver mais talvez em uma felicidade descabida.  Hoje, qualquer alegria me serve, qualquer tamanho de sonho bom.

 Aprendi a viver pelos motivos mais justos ou certos. Minha casa é suspensa, minha alma canção. Se quiser companhia, me estenda o abraço, me tenha nas mãos.

Se estiver ao meu lado, me diga a verdade, me olhe nos olhos. Eu prometo mostrar o mundo escondido em um assobio distraído de realidade.

Aí, então, eu contarei o nome da rua, o número suspenso da casa e terei nos dias qualquer motivo para não cultivar felicidades ao avesso.