sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Do lado de lá

Meus olhos se debruçam na janela do ônibus. Uma vida inteira lá fora. Depressa, um rapaz atravessa
a rua, ziguezagueando entre os carros. Desvio o olhar e no outro canto me deparo com uma pressa que as pernas não alcançam: é a bengala que dita o ritmo dos passos, que de tão lentos, riscam a calçada.

Pra um, o importante é chegar. Pro outro, é o passo que não pode cessar e, assim, o mundo vai ditando
o contraste.

Da janela vejo o céu, um tanto cinza. Do lado de dentro, alguns ouvem música, outros cochilam e muitos, muitos olhos vidrados no nada. Não sei se é sono ou uma extensa ausência de sentido na rotina:
eles só sabem que precisam ir.

Será que precisam mesmo?

Quanto custa mudar a direção da vela? Será que o vento colabora? Se não, ainda tenho os remos. Há muito desisti de me entregar à correnteza. Ser feliz parece óbvio, mas muitas vezes não é. Bebemos a água da rotina e deixamos o sonho para amanhã.

Acordamos, pegamos o ônibus, trabalho, academia, cama. E, assim, já foi o ano e permanecemos no mesmo lugar, só que em outro tempo. Até quando teremos tempo? O amanhã é urgente. O sonho é urgente.

Pulo fora deste ônibus. Decidi ir ao encontro do destino.