sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Do que se vê

Há muito, o corpo pesa na cadeira.

Se pega pensando nas coisas da vida, no que poderia ser diferente e naquilo que a rotina consome.

Lembra dos sonhos de anos atrás: realizados, perdidos no hiato das horas ou mesmo engolidos nas convicções suspensas.

O que teria sido diferente se o caminho fosse outro? Frustrações? Vitórias? Outra vida?

Rabisca qualquer coisa enquanto conversa ao telefone.

Ouve aquele samba dolorido e, assim, recorda o antigo pra ter a certeza do que importa. Traça uma meta, rabisca um ponto.

O rumo? O vento que arrasta a chuva.

Descobre o sorriso na arte de viver o novo, mesmo que velho.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Do lado de lá

Meus olhos se debruçam na janela do ônibus. Uma vida inteira lá fora. Depressa, um rapaz atravessa
a rua, ziguezagueando entre os carros. Desvio o olhar e no outro canto me deparo com uma pressa que as pernas não alcançam: é a bengala que dita o ritmo dos passos, que de tão lentos, riscam a calçada.

Pra um, o importante é chegar. Pro outro, é o passo que não pode cessar e, assim, o mundo vai ditando
o contraste.

Da janela vejo o céu, um tanto cinza. Do lado de dentro, alguns ouvem música, outros cochilam e muitos, muitos olhos vidrados no nada. Não sei se é sono ou uma extensa ausência de sentido na rotina:
eles só sabem que precisam ir.

Será que precisam mesmo?

Quanto custa mudar a direção da vela? Será que o vento colabora? Se não, ainda tenho os remos. Há muito desisti de me entregar à correnteza. Ser feliz parece óbvio, mas muitas vezes não é. Bebemos a água da rotina e deixamos o sonho para amanhã.

Acordamos, pegamos o ônibus, trabalho, academia, cama. E, assim, já foi o ano e permanecemos no mesmo lugar, só que em outro tempo. Até quando teremos tempo? O amanhã é urgente. O sonho é urgente.

Pulo fora deste ônibus. Decidi ir ao encontro do destino.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As verdades que a gente esquece

A vida é um eterno ritual: ao som do despertador, acordar. Escovar os dentes, tomar banho, café, ônibus e trabalho. Rotina mecânica, feito andar descalço na casa escura – os móveis já sabem o seu lugar. E pelas frestas, rastros de luz para mostrar que os pés podem ir além.

A vida pode um ritual que faz a rotina não ter a carga pesada de seu nome ao ser o beijo no filho antes do sonho, a saudade das manhãs de domingo, entre lençóis e preguiça. Os dias são pequenos rituais de amor e doação, antes de qualquer pergunta.

As horas vão além da água quente pelo corpo ao final de um dia de trabalho, tudo pode ir além do tempo que no trânsito se esvai. Os dias devem ter pequenas marcas de alegrias desmedidas, para assim, saber o valor de uma risada no turbilhão chamado trabalho.

Nossa rotina deve ser marcada pela cadência da felicidade, pelo abraço que sempre nos espera em casa: almoço com os amigos – ou mesa posta pra um banquete, mesmo sem visita. Cada um sabe a sua válvula de escape, seu ritual de salvação.

É urgente saber na rotina o que nos permite viver em paz.