terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sobre listas de ano novo (ou A felicidade não precisa de burocracia)

Abandonei as resoluções de 'ano seguinte' há tempos. Deixei de lado os planos que não vou cumprir. Cansei de me prometer academia, menos chocolate e diminuir a compulsão por comprar mais livros do que eu consigo ler.

Decidi ser feliz de forma simples, sem ter itens para checar ou caminhos obrigatórios. Não faço listas para não me reduzir e para não ter a quem (ou a o quê) culpar quando as coisas derem errado.

Tenho metas e estratégias, mas não listas. Prefiro não contar até dez. Enumerar resoluções é começar um regime toda segunda-feira para abandoná-lo vinte e quatro horas depois.

Em meus dias, consertei o que deu errado no momento da perda. Fazer listas é adiar as respostas, é jogar pra frente o que temos medo de resolver - e pelo medo, esquecemos as listas no fundo das gavetas.

Não quero adiar nada, não preciso de planos pra mais tarde. Os meus pés ditam o limite dos passos. A felicidade não precisa de burocracia. O caminho não precisa de listas quando o caminhar é prioridade.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Samba esquecido

Como é mesmo que a canção aquela dizia? Perdi as palavras exatas, porém tenho ainda os pés meio tontos, o coração trôpego, um frio entre os dedos.

O que aconteceu com os dias? Sobrou o olhar carregado, o castanho nublado, o soluço nas mãos. Sobrou um resto de cor, um resto de tudo, um pedaço de mim. Sobrou um retalho, um retrato, seu rosto enquadrado, as migalhas dos dois. Sobrou um livro emprestado, uma canção esquecida e algumas juras já gastas. Ficou o que eu me esqueci de dizer e o que ninguém perguntou: Aquilo que a gente não quis ou deixou pra depois.

Como é mesmo aquela alegria triste, aquele samba arrastado? Como é mesmo que você me dizia pra não me importar com a multidão? Procuro agora um caminho, um rumo ou estrada. Não espero nada, além da chuva ou da paz de se esquecer certas canções.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A espera sobre a mesa

Todas as noites, eu coloco um prato a mais na mesa pra me convencer de que você vem pro jantar. A que horas você chega? Será que o telefone toca? Olho, assim, de canto de olho, de mãos dadas a qualquer esperança e ele continua lá: mudo e inerte. Quando toca, não me traz notícias boas, apenas um telemarketing insistente e uma chateação enorme.

Eu te espero, a comida esfria. A fome vai embora e o prato sobre a mesa. Você nunca mais apareceu, nunca se explicou. Na calada da noite, juntou seus braços e partiu, assim, pé ante pé, deixando as fotos velhas para trás.

Você vem pro jantar? Eu preparei seu prato preferido e guardei todas as facas, não haverá guerra, não haverá cortes mais profundos que os já feitos. Haverá apenas a nostalgia ao vê-lo sentado, assim, sem me encarar, nem reconhecer.

Eu ainda espero, eu ainda ponho o prato sobre a mesa. Quem sabe você não se cansa e volta. A porta fica destrancada, não precisa bater, apenas volte. E quando voltar, faça a última refeição e vá embora, sem alarde, sem perdas ou pés de lã. Saia pela porta da frente, com os bolsos vazios. Deixe os motivos sobre a mesa.