quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A espera sobre a mesa

Todas as noites, eu coloco um prato a mais na mesa pra me convencer de que você vem pro jantar. A que horas você chega? Será que o telefone toca? Olho, assim, de canto de olho, de mãos dadas a qualquer esperança e ele continua lá: mudo e inerte. Quando toca, não me traz notícias boas, apenas um telemarketing insistente e uma chateação enorme.

Eu te espero, a comida esfria. A fome vai embora e o prato sobre a mesa. Você nunca mais apareceu, nunca se explicou. Na calada da noite, juntou seus braços e partiu, assim, pé ante pé, deixando as fotos velhas para trás.

Você vem pro jantar? Eu preparei seu prato preferido e guardei todas as facas, não haverá guerra, não haverá cortes mais profundos que os já feitos. Haverá apenas a nostalgia ao vê-lo sentado, assim, sem me encarar, nem reconhecer.

Eu ainda espero, eu ainda ponho o prato sobre a mesa. Quem sabe você não se cansa e volta. A porta fica destrancada, não precisa bater, apenas volte. E quando voltar, faça a última refeição e vá embora, sem alarde, sem perdas ou pés de lã. Saia pela porta da frente, com os bolsos vazios. Deixe os motivos sobre a mesa.

Um comentário:

Graci disse...

Simplesmente uma sensibilidade maravilhosa!!!
AMEI! Um dos meus prediletos! Parabéns Ana! =) bjs!