sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Maestro

Em um final de semana, destes de sol, que nos convida para uma caminhada descompromissada, as pessoas correm entre lojas abertas, carros que furam o sinal e uma arquitetura que se esconde atrás dos letreiros luminosos.

Entre espaços onde haviam prédios que foram derrubados por uma dita modernidade, deparo-me com um morador de rua, sentado sobre uma mala.

Vidrado, concentrava os olhos no aparelho de televisão disponível em uma banca de revistas.

Na tela, Pavarotti.

Ele não estava sob uma marquise, nem esquecido em um canto: Fez do largo da Carioca sua sala de estar. Tomado pela música, ignorava o mundo, talvez em uma inversão de papeis.

Enquanto as pessoas corriam, fizera a opção por sequer piscar. Como se na música estivesse todas as respostas das dores cotidianas.

Sentado, rodopiava.

Dançava parado ao som de uma música triste. Parecia alegre. Era ele a única verdade em um mundo inconveniente.Talvez fosse ele, o único que fizera as escolhas do saber viver.
 
No silêncio, aprendeu a orquestrar o caos.