quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por cartas e cartões postais

Não sei qual foi a última vez em que uma carta me chegou pelo correio. Apenas os bancos, o serviço de telefonia e o setor de marketing de diversas empresas me enviam correspondências – mas não dizem sequer um “oi” sincero, trazem apenas valores cifrados e datas a respeitar. Quando muito, um “oi” impresso, seguido de meu nome completo (quanta informalidade!) e me oferecendo uma oportunidade incrível que eu prefiro perder.

Por isso, não sei mais qual foi a última vez em que um amigo me enviou uma carta. As minhas, viraram objeto de coleção, recontam a vida em linhas rasuradas. Hoje eu recebo emails. Não que eles sejam ruins, mas não carregam consigo a expectativa existente entre o envio e a chegada, entre a mão que escreve e os olhos que lêem apressados, exclamados em novidades.

Conheço pessoas que guardam postais dos lugares por onde passaram. Eu coleciono parte da minha vida em envelopes com selo, carimbo e data. Eu guardo uma nostalgia de quem viveu antes do instantâneo, de quem gosta do barulho de máquina de escrever e tinta de caneta sujando a mão.

A verdade é que os correios já não suprem a velocidade da chegada, nunca foram instantâneos. Ganhamos a necessidade da pressa, perdemos o charme. Hoje, as letras são corrigidas sem rasuras, corretivos, não deixam marcas, nem saudades. São automáticas, consomem, informam e morrem esquecidas, entulhadas entre spams e emails de trabalho.

3 comentários:

Wing Costa disse...

Que saudade das cartas que eu nunca recebi.
Agora as chances ficaram menores, né? Mas essas suas cartas assim virtuais, pra todo mundo ver, ainda fazem muito bem.

zero disse...

por sorte ainda recebo cartas e as escrevo. por sorte ou parcimônia, não sei. tantas formas novas de se falar com os outros e é como se as palavras nunca tivessem sido tão erradas.

Entre passos e olhares disse...

Ah Flávia! Vc é fabulosa!
Parabéns pelo texto, está lindo!
Eu sinto tanta saudades de receber cartas... sinceramente? Ainda escrevo algumas e deixo para as pessoas nos lugares menos prováveis (pq já não dá tempo de ir ao correio...). Outro dia, deixei uma carta na bolsa de uma amiga... acho q ela nem leu, se leu não se manifestou...
Bj!