segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A francesa

Hoje perdi o sono. Levantei mais cedo do que o de costume. Vesti uma roupa esquecida há muito no guarda-roupa, tomei um café preto e saí. Levei comigo meia dúzia de certezas nos bolsos, mas ainda buscando um passo firme.

Fui olhando a paisagem correr pela janela do ônibus, entre a pressa e a preguiça de uma segunda-feira. Quase que de forma involuntária, saltei dois pontos à frente do de costume. Atravessei a rua e adentrei no Parque do Flamengo, um pouco antes das 8 horas da manhã.

Algumas pessoas se exercitavam sob um céu tão azul que nem me lembrei das chuvas do final de semana. Caminhei um pouco e, já voltando, sentei-me à beira mar. Ali, as pessoas podiam ser classificadas em três grupos: as que trabalhavam (garis, barraqueiros, vendedores de picolé e jornal), as que queimavam calorias e as que contemplavam.

No caso, duas.

A sensação que tive é que apenas eu e uma mulher, de seus 50 anos, francesa talvez, gastava as horas olhando o reflexo do sol na água. E como brilhava. Ficamos nós, por quase uma hora, perdidas entre o vento, o pensamento e o marulhoso barulho do mar.

E ali tudo foi calma, tudo foi paz.

Sentadas a cerca de três metros uma da outra, não trocamos uma palavra sequer. Mas, de alguma forma, nossos pensamentos vibravam num mesmo tom.

Ela se levantou antes de mim. Me encarou e, sem dizer uma palavra, acenou com a cabeça e sorriu.
Como se agradecesse a companhia.

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