terça-feira, 9 de junho de 2009

Goteira, mofo e solidão

As rodoviárias são locais tristes. Carregam lágrimas em suas goteiras. Mesmo quando o momento é de desembarque, tudo em volta ainda respira um “até mais”, ainda que haja abraços, sorrisos. A área de desembarque é um triste carregado de uma espera, da certeza que amanhã ou depois é preciso partir novamente.

No Terminal Rodoviário de Goiânia, travestiram a solidão de shopping Center. As pessoas engolem o choro e dizem adeus entre vitrines, cinemas e praças de alimentação. Em Brasília, a solidão é imensa. A rodoviária da capital do país é suja e feia. Mais que isso: é fria. Assim como o restante da cidade com seus prédios imponentes e seus gramados verdes a perder de vista.

Não poderia ser diferente: o movimento é intenso. Enquanto um namorado despede-se em um interminável “tchauzinho” para a namorada, já dentro do veículo, presa a seu destino, uma senhora chora calada - sentada três bancos adiante - e uma criança brinca com seus patins, em um ir e vir frenético, combinando com o local. Ali se vende de tudo: travesseiros, cachorrinhos que balançam a cabeça, salgados amanhecidos e sorrisos amarelos.

Vez ou outra, alguém encosta pedindo uma moeda para completar o dinheiro do lanche ou da passagem. As rodoviárias são tristes porque não há raízes, a partida é a dona da casa. Mesmo os que ali trabalham, não criam vínculos, não dão bom dia, não sorriem. A solidão é numerada: cada box um destino, cada destino milhares de histórias que nunca ninguém irá conhecer, porque ninguém irá perguntar.

As rodoviárias sufocam o calor humano e a vida passa a ser comandada pela hora de embarcar. A vida passa a ser um número, uma passagem. As rodoviárias são lugares repletos de marcas, destinos esquecidos. Tudo parece transitório, os rostos se perdem ao adentrarem os respectivos ônibus. Em um banco de rodoviária, fica sempre o cinza, o mofo e todos os sonhos que já não servem mais.

Um comentário:

zé disse...

engraçado... sempre tive uma visão muito diferente de rodoviárias. Talvez por que sempre as relacionei com chegadas e não com partidas. Por isso para mim todas as rodoviárias soam bem, mesmo com sua indiferença e com sua feiura (quase todas são feias). Gosto de pensar que todas as pessos que vão, vão atrás de um sonho, de alguém, de uma nova vida, ou mesmo da vida que deixaram. E todas as pessoas que ficam, ficam com a esperança de um retorno. Acho que as rodoviárias são como cartas, só que menos brancas.