domingo, 18 de outubro de 2009

"O pássaro é livre na prisão do ar"

Eu o vi ali, parado. Ele tentava evitar a aproximação dos inimigos e acabou por sufocar cada um daqueles que o amava. Ele olhava o chão e sorria mudo, seco, fingindo não perceber que seu destino escapulira e que já não poderia fazer o tempo caminhar para trás.

Eu o vi queimando todas as certezas e cometendo o erro de refazer as mesmas escolhas ao flertar com o eco de desejos terceirizados. Eu juro que o vi desfazendo os nós, dissolvendo as amarras, mas sem vontade de voar.

Ele queria ler a sorte em uma xícara de café. Ele queria dizer que sente muito, mas na verdade não sente. Ele construíra as trincheiras. Ele asfixiou cada suspiro de futuro. Foi ele quem bateu a porta e deixou a alma tomando chuva.

No fundo, foi ele quem me deu essa raiva que não existe e esta vontade de fazê-lo reagir sem gritos.

(Ana Flávia Alberton, com a velha mania de desenterrar textos de seu blog antigo).

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