sexta-feira, 7 de maio de 2010

Conversa banal (Ou talvez o mundo ainda tenha solução)

A malemolência do carioca se mistura com um jeito de falar já intimidando, ele gesticula demais. O carioca dá bronca pra desabafar, independente se o outro está, ao menos, errado. Porém, aprendi uma coisa: o supermercado é reduto de pessoas educadas.

Isso não significa que o atendente vai responder ao bom dia -  ou ao menos sorrir. Os cariocas não vão retirar seus carrinhos do meio dos corredores ou pedirão licença.  Ainda assim, seja na fila do caixa, da padaria ou açougue, terá sempre uma velhinha simpática, com seus óculos grandes escorregando pelo nariz. Terá sempre uma velhinha com seu carrinho de feira, de rodinhas velhas.

Ela irá contar da vida, reclamar baixinho, sorrir distraída, enquanto pede o queijo com menos sal. Ela vai lembrar que a vida é difícil, mas doce  -e que se a vista embaça, é só fazer o croché com linha grossa.

Hoje conversei com uma senhorinha de seus lá 70 anos. Ela me contou da reportagem triste que leu sobre irmãs gêmeas que nasceram cegas e mudas. Contou-me que já não consegue mais  se distrair com o artesanato e que já está na fila esperando operação de catarata.

 Hoje eu conversei com uma senhora que tinha olhos firmes e mãos trêmulas. Contou-me de tudo o que é triste e belo. Contou-me sobre tantas outras coisas, sobre tantos mistérios que só a velhice permite as respostas.

Ao final da fila, após pegar 150 gramas de azeitonas verdes sem caroço, me sorriu, agradeceu pela conversa e seguiu seu destino, a passos curtos. Mal sabe ela que foi a sua calma que salvou  meu dia.

Um comentário:

tcdutra disse...

Acho que você ficou com essa impressão dos supermercados cariocas porque não frequenta o Mundial dia de semana 6 da tarde. O Fabricio ( que não gosta de pagar mais caro por coisas que não valem) já desistiu de fazer compras lá.Ali é o inferno das pessoas estressadas, de mal com a vida, com o trabalho e descontando nos outros todas as frustrações cotidianas. Pra mim, lá tem o efeito contrário, percebo que podemos ser gentis mesmo na hostilidade, e que, se o outro não responde ao estímulo, pelo menos você percebe que tratar as pessoas com carinho é fundamental pra ser feliz, e para de se estressar por coisas que não valem...