sábado, 27 de março de 2010

Dos amores que não vivi

Dos amores que não vivi, guardo as lembranças boas. Guardo o trevo de quatro folhas, guardo cartas, poemas e bilhetes sem nome. Eu guardo a escolha que fiz - ou que a vida já me deu pronta. 

Eu reconto os dias pelo amores vividos e marco a respiração por aqueles que não tiveram (ou não me deram) a escolha do apaixonar. Sim, porque se apaixonar é uma escolha diária, minimalista e necessária.

Eu me apaixonei pelos amores que não vivi. Cada qual por seu motivo e mistério. Acabo por me perguntar onde estaria se o amor fosse outro, se eu tivesse me apaixonado pelos números, não pelas letras, se eu preferisse os louros, se eu não gostasse tanto dessa coisa de viver em paz.

Não, eu não deixei de me apaixonar para não perder a calmaria. Eu não me apaixonei porque não pude, porque as chaves já estavam com outro, porque as letras já me consumiam, porque não havia mais espaço.

Ainda assim, sobrou a brecha dos amores que não vivi, sobrou a lembrança boa - e tola de quem fui. Sobrou vocês, eu, todos os números. Sobrou todas as faltas para que outras presenças fossem necessárias, marcantes e eternas.

 Sobrou todo resquício, verso, papelzinho perdido na bolsa. Sobrou cada sorriso e lágrima dos amores que não vivi.

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